Apontamentos foram feitos durante duas reuniões, realizadas em abril, com o deputado Dr. Jean Freire

Na manhã do dia 22 de abril de 2020, o deputado estadual Dr. Jean Freire, reuniu-se por meio de videoconferência com lideranças de diversas comunidades quilombolas dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri para tratar sobre os desafios que estão sendo enfrentados durante a pandemia do coronavírus e traçar estratégias para oferecer a assistência necessária. 

Em sua fala, Dr. Jean Fez apontou diversas preocupações relacionadas ao público. “Alguns estudos têm mostrado que a Covid-19, causada pelo novo coronavírus, tem sido mais letal em pessoas negras. Fico me perguntando se elas têm realmente alguma predisposição a contrair a doença ou se essa letalidade é fruto da falta de acesso que o povo negro tem à saúde”, indagou. 

A fala do deputado foi seguida pela da Sandra Silva, Diretora da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais e moradora da comunidade Carrapatos, em Bom Despacho. Sandra informou que há vários casos confirmados nas comunidades, além do número de mortos, e que essas informações não são devidamente divulgadas. “Por essa razão, estamos lançando o resultado de um monitoramento que a Federação está realizando”, disse.

Ela ainda apontou para as dificuldades enfrentadas por diversas comunidades. “Muitas estão preparadas para a quarentena, mas outras não. Temos recebido pedidos de cestas básicas e de produtos de higiene e precisamos ver o que podemos fazer”, finalizou. 

Agricultor no município de Carlos Chagas, Edson Sousa Santos, coordenador da Comissão Quilombola do Mucuri e membro da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais, também denunciou a falta de informações. “Nós temos um caso confirmado aqui, mas não sabemos ao certo como se deu essa contaminação e quando questionamos, não nos dão respostas”, disse. 

Edson ainda relatou o fato de que as cidades pequenas têm recebido pessoas de outras regiões, o que coloca em risco os moradores locais. “Têm pessoas de outras regiões chegando aqui na cidade, sem se preocuparem e colocando em risco quem está aqui cumprindo sua quarentena”, desabafou. 

Segundo o presidente da Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale do Jequitinhonha (Coquivale), Jô Pinto, é preciso pensar estratégias, ações práticas para ajudar as comunidades. “A situação é, de fato, muito séria. Enquanto Coquivale, estamos buscando parcerias no Brasil inteiro. Há também um financiamento coletivo para arrecadação de fundos, mas isso é pouco. Precisamos pensar ações maiores, sobretudo no que diz respeito à alimentação e o acesso à água. Muitas comunidades estão com falta de água ou só recebem água de má qualidade, além da escassez de alimentos. Fome não espera, sede não espera”, desabafou. 

Maria de Fátima Silva Araújo, da cidade de Itamarandiba, falou sobre a preocupação quanto aos caminhoneiros que residem na região. “Aqui tem muitos caminhoneiros, que por trafegarem por muitos lugares, podem acabar trazendo o vírus para o nosso município”, disse. 

Para João Carlos Pio, da Rede das Comunidades Quilombolas de Belo Horizonte e Região Metropolitana e Coordenador Estadual do Agentes de Pastoral Negros do Brasil, as comunidades quilombolas não estão na lista de prioridades dos órgãos  públicos. “Uma prova disso é a fragilidade das políticas públicas instituídas até hoje para atender as comunidades, tanto a nível federal quanto estadual”, disse.

Para João Carlos, é de extrema importância pautar, também, a defesa da democracia e a taxação das grandes fortunas no País. “Essa conta não pode cair nas costas do povo. Temos que taxar as grandes fortunas, que ao invés de ajudar os bancos, deveriam ajudar as comunidades”. Carlos ainda falou sobre o governador Zema e a importância de que sua proposta de afrouxamento do isolamento social e outras medidas de prevenção sejam combatidas. 

Para dar prosseguimento à discussão iniciada no dia 20, o deputado realizou outra reunião na segunda-feira, 27, que contou com a presença de outras lideranças quilombolas. Durante a reunião, Dr. Jean informou a todos sobre a iniciativa do mandato em arrecadar materiais e recursos para a confecção de máscaras reutilizáveis de proteção individual. “Estão sendo coletadas doações tecidos, linhas e elásticos para grupos e comunidades que se dispuserem a realizar a confecção. Nossa proposta é que 50% da produção das peças seja distribuída na comunidade e a outra parte seja doada para outros locais que necessitem dos itens”, disse.


José dos Passos, conselheiro da comunidade do Bom Jardim do Prata, em São Francisco, no Norte de Minas,  informou a existência de oito casos confirmados do novo coronavírus no município, um deles em uma comunidade quilombola. Apesar da realização do isolamento social, José relatou a existência de um grande número de passageiros sendo transportados na balsa da Travessia do Rio São Francisco, o que pode colaborar com a transmissão do vírus na região. 

O município de São Francisco concentra cerca de sete comunidades, totalizando mais de 580 famílias, onde 340 se declaram quilombolas. José parabenizou a iniciativa de confecção das máscaras. Segundo ele, o comércio local tem cobrado valores abusivos para aquisição das máscara que, neste momento, está em falta no município. Ele ainda se disponibilizou a organizar um grupo de costureiras para iniciar a produção das peças no local.

Aécio Miranda, diretor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFNMG) campus Araçuaí, falou sobre o movimento migratório que acontece no município de Chapada do Norte. Agricultores familiares e quilombolas viajam para realizar a colheita do café e corte de cana, ficando cerca de cinquenta dias entre São Paulo, Sul de Minas e outras regiões, e retornam para o município, intensificando a transmissão do vírus para suas famílias e comunidade.

Aécio relatou, ainda, a criação de um aplicativo de venda de produtos procedentes da agricultura familiar e das comunidades quilombolas, que está sendo desenvolvido pelo IFNMG no campus de Janaúba.

Eduardo César Motta, vereador de Bom Jesus do Amparo, disse que o município criou uma rede solidária para auxiliar famílias mais necessitadas. Motta, que também é diretor do Sindicato dos Jornalistas, se disponibilizou a acionar a Assessoria de Imprensa da entidade para analisar a viabilidade da criação de um podcast para ajudar na divulgação das informações e dos dados relacionados à pandemia nas comunidades.

Para o assessor responsável pela pauta quilombola no mandato, Marcos Luiz Silva, é preciso ampliar o acesso às informações e às ações que vêm sendo desenvolvidas pelas próprias comunidades, inclusive. Marcos citou, ainda, um problema que merece atenção, sobretudo neste período tão incerto: o suicídio entre os jovens negros. De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de suicídio entre jovens e adolescentes negros é 45% maior que entre jovens e adolescentes brancos.

Os dados foram divulgados em 2019 e também apontavam um crescimento de 12% do suicídio entre entre os negros, entre 2012 e 2016, enquanto se manteve estável entre os jovens brancos no mesmo período. 

Além dos encaminhamentos já apontados, também foi acordado que seja feito um levantamento das ações que estão sendo desenvolvidas pelas prefeituras para que as comunidades quilombolas sejam priorizadas. Também foi proposta a verificação da situação dos municípios quanto às famílias que têm direito ao auxílio emergencial. Ao final da reunião, o deputado estadual Dr. Jean Freire colocou o mandato à inteira disposição das comunidades e se comprometeu a buscar alternativas junto ao estado para minimizar os impactos da pandemia. 

Assessoria de Comunicação